sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

CONFERÊNCIA DE 13 DE DEZEMBRO



«ESTÉTICA, POLÍTICA E CONHECIMENTO — 5º Seminário Aberto de Investigação (2017)».  —  No âmbito deste encontro, pronunciei, no dia 13 de dezembro, pelas 14h45, na Sala de Reuniões da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a comunicação que se segue:  A COSMOVISÃO CARNAVALESCA E O PROGRAMA DA I.S.: A PROPÓSITO DE MAIO DE 1968.

Para os leitores desta Montr@, aqui fica o resumo da minha intervenção:

Com propriedade, há quem assinale a «carnavalização» situacionista da revolta de Maio. Assim sendo, pretendemos comparar a cosmovisão carnavalesca, tal como a concebe Bakhtine, com o programa da I.S. Para o efeito, devemos desdobrar quatro categorias que especificam, segundo o autor russo, o modus vivendi do Carnaval: (i) o «livre contacto familiar entre os homens»; (ii) a «excentricidade»; (iii) as «“mésalliances” carnavalescas»; e (iv) a «profanação». Ora, à primeira categoria, que ilustra a revogação pública das hierarquias e das etiquetas, facilmente se associa a valorização situacionista da rua, na sua qualidade de espaço aberto, igualitário e fraterno. Além disso, a segunda, que é inseparável da anterior, articula‑se, por outro lado, pela sua vertente comportamental, com a pesquisa psicogeográfica, ou seja, com a busca experimental e lúdica de paixões e comportamentos que extravasem e subvertam o domínio utilitário da vida quotidiana. Quanto aos «casamentos desiguais», que unem o que a ordem social separa (por exemplo: o sério e o riso; o saber e a ignorância; o alto e o baixo; etc.), podemos associá‑los à crítica situacionista da separação, de acordo com a qual se pretende eliminar as compartimentações estanques da sociedade. (Como é sabido, a I.S. visa à fusão, designadamente, da arte com a vida e, ainda, do jogo com o quotidiano.) Por fim, temos o aspeto mais evidente da ação carnavalesca, i.e., a profanação, de que são equivalentes situacionistas, entre outros, o insulto e o escândalo.
Destas semelhanças, porém, pode resultar a conclusão de que o Carnaval se equaciona com uma situação episódica? Das mesmas, inversamente, pode advir a tese de que a construção de situações não é senão um processo permanente e contínuo de carnavalização? Para ambas as perguntas, como havemos de ver, é negativa a resposta.

Eurico de Carvalho



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