sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

INTRODUÇÃO À LEITURA DOS DIÁLOGOS MINIMALISTAS

Modo de Usar

1. Embora surjam com a aparência de figuras abstractas, A e B devem ser compreendidos como verdadeiras personagens; não há que tomá‑las, pois, como posições conceptuais, i.e., redutíveis, por exemplo, de acordo com a cartilha hegeliana, à tese e antítese, respectivamente.

2. Sob o pano de fundo da observação anterior, não podemos perspectivar o autor textual, fictício, como sendo o putativo lugar da síntese bem‑soante.

3. Ironicamente investido de autoridade, por força da ressonância semântica do seu nome próprio, o autor desempenha uma função essencial: operar uma transformação da leitura inicial, perturbando‑a, com a consequente elevação do seu nível de complexidade.

4. O ponto de vista autoral não se confunde com o de A nem com o de B; se isso acontecer, será claro sinal do fracasso do diálogo, na sua qualidade de objecto dialéctico (no sentido kantiano do termo).

5. A distinção entre personagens e autor adquire aqui um valor operatório: marca a passagem da vida para o pensamento e a (im)possibilidade de captura daquela, singularidade concreta, por este último, pura abstracção.

6. Não se veja no sujeito nominal dos diálogos o alter ego do relator. Dada a diferença ontológica que os separa, aliás, irreversível, não podemos legitimar a redução retórica da autoria à dimensão linear de um mero exercício de pseudonímia.

Eurico de Carvalho

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