FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO POR ESCREVER [X]
Debato‑me (há quantas noites?) com incerta mistura de electricidade e cansaço. Durante o dia, com magnífica lentidão, a dos elefantes, escorre ainda a tinta vermelha por entre linhas incontáveis, enquanto se aglomeram na secretária rimas infernais de papel poluído. Na sala de aula, sem força já para acompanhar a voz, perdeu graça o jeito astuto das mãos falantes, voando sobre o espanto dos alunos. E no bar dos professores, sorvendo o chá do fim da manhã, desenho dentro de mim a indispensável viagem para uma ilha distante. Invento até o mapa do meu desaparecimento. Mas tudo isto dura apenas o que eu permito que dure: o tempo de uma bebida chinesa. A paciência, como sabemos, é uma virtude pedagógica. Quanto ao devaneio, devemos dar‑lhe, com trela certa, o melhor lugar: a página mais que vazia de quem escreve.
Eurico de Carvalho
Etiquetas: PROSA
2 Leituras da Montr@:
Ora aqui está o bom e o belo em versão digital. Texto lindíssimo. E terrível: como te entendo.
Onde está "está" deveria estar "estão". Errar assim é desumano. Tem paciência comigo.
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