SÍTIO DAS ÁGUAS
Hoje vou escrever um poema
para as pessoas lerem o que lá não está escrito,
que esta foi sempre a maneira — disseram‑me em criança —
de conseguir o eterno na memória dos outros.
Um poema que será, assim o queira, de quantas palavras
for o mundo feito
nas contas inúteis de um louco.
Louco? Não! Que nunca andou na escola.
Um poema de forma qualquer marinheiro, talvez
de águas situadas na página quarenta e tal
de um livro a editar no futuro em doze exemplares
(por faltarem leitores e dinheiro para mais).
Mas hoje, que vou escrever um poema
para as pessoas lerem o que lá não está escrito,
para essas, claro, que andaram na escola
e fizeram os trabalhos de casa com as palavras do Mestre,
logo hoje!, hoje ainda de um dia exacto como tantos,
sei que me esqueci completamente
de ver se o mar
estava no sítio das águas:
à minha janela,
para além de mim.
Eurico de Carvalho
In «O Tecto»,
Ano XVIII, n.º 56,
Julho/2007, pág. 13.
Etiquetas: POESIA
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