DÍPTICO ADOLESCENTE
Penso nas coisas que foram ditas sem maldade,
apenas no gozo da circunstância,
às raparigas dos nossos olhos de outrora.
Como elas ficavam paradas, como dispostas
para o espanto de quem soubesse
vê-las de outra maneira que não a nossa.
O amor por elas era triste:
mera companhia sem companheiro.
*****
Já começa a ser tarde
para o que há-de vir, arte
de quem ficou em casa
sem fazer por isso.
Agora, amiga, a diferença
que separa a noite do dia
no horizonte se perde.
Assim morrem bocas
na falta de mitos.
Mas tomando a discórdia as rédeas
ao discurso, dá-se lugar ao gesto
pleno — quase exacto —, e cujo
elemento se não nomeará
enquanto não for terrestre a ligeireza
dessa voz que no futuro se conjuga.
Eurico de Carvalho
In «O Tecto»,
Ano X, n.º 66,
Março/2010, p. 14.
Etiquetas: POESIA
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