quarta-feira, 17 de março de 2010

DÍPTICO ADOLESCENTE






Penso nas coisas que foram ditas sem maldade,
apenas no gozo da circunstância,
às raparigas dos nossos olhos de outrora.

Como elas ficavam paradas, como dispostas
para o espanto de quem soubesse
vê-las de outra maneira que não a nossa.

O amor por elas era triste:
mera companhia sem companheiro.

*****



Já começa a ser tarde
para o que há-de vir, arte
de quem ficou em casa
sem fazer por isso.


Agora, amiga, a diferença
que separa a noite do dia
no horizonte se perde.
Assim morrem bocas
na falta de mitos.

Mas tomando a discórdia as rédeas
ao discurso, dá-se lugar ao gesto
pleno — quase exacto —, e cujo
elemento se não nomeará
enquanto não for terrestre a ligeireza


dessa voz que no futuro se conjuga.


Eurico de Carvalho





In «O Tecto»,


Ano X, n.º 66,

Março/2010, p. 14.





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