CEM PALAVRAS [I]
Não tenho o sonho de ser fotógrafo. (Sempre cultivei uma relação ambivalente com a arte de Daguerre: de um lado, o desprezo do iconoclasta; do outro, a admiração de quem preza filosoficamente a captura tecnológica do instante, vendo nela uma proeza à altura de Prometeu.) Mas esta fotografia (feliz acaso de um mero caçador de imagens) revela algumas perplexidades. É indiscutível a formosura da paisagem. A simetria do enquadramento dos motivos realça a alma do lugar. Tudo isto, porém, esconde a realidade: a poluição do rio Ave. Eis a crítica clássica à desenfreada produção fotográfica: a falsa estetização do real.
Eurico de Carvalho
In «O Tecto»,
Ano X, n.º 69,
Dezembro/2010, p.2.
Dezembro/2010, p.2.
5 Leituras da Montr@:
Eurico, tenho fascinação pela
fotografia, embora nada entenda da
arte de fotografar e também não
pretenda ser fotógrafa.
O que faço é admirá-la e tirar
minhas conclusões em torno do que
vejo e do que minha mente cria.
Fernando Rozano (não fotógrafo
profissional), tem um belo
trabalho na net e algumas vezes
roubo (de forma consentida)
algumas de suas imagens para
acompanhar poemas ou um dedinho de
prosa.
Faz algum tempo visitei um blog
(ao qual não recordo agora) em que
a pessoa trabalhava com as imagens
de forma a despertar não apenas o
belo (tangível aos olhos), como
também lançava ao ar indagações
que levava o receptor a analisar
as duas faces da moeda. Recordei
ao ler o seu post.
Gostei de sua volta, Eurico.
Caso a foto seja sua, parabéns.
Possui talento e sensibilidade.
Caso não seja permanece a
sensibilidade, o bom gosto e
a sabedoria em apresentá-la
debaixo de vários olhares.
Abraços.
Cara Eliane, agradeço as suas palavras. Quanto à sua dúvida, devo dizer-lhe o seguinte: é minha, de facto, a fotografia, embora seja, como dou a entender na legenda que a acompanha, o fruto singular de um simples caçador de imagens.
Eurico, premiados somos nós,
torno a afirmar, os ganhadores de
um caçador de imagens.
Abraços.
Esse barco que aí está
Tão belo na solidão
Vai à deriva?
Ou sabe de antemão
O caminho que trilha
Na sua vida?
Entre a deriva («le bateau ivre»!) e o rumo (o consolo burguês), caríssima Sandra, talvez haja uma terceira via. Quem sabe? O caçador de imagens não tem certezas nem respostas.
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