segunda-feira, 11 de setembro de 2006

CRÓNICA DE NENHURES


Cloacas do cansaço acrata… Um sentimento aquático da tristeza… Abecedários da lucidez, pois passam por ser (Deus o disse) zeros rudes: sensaborias «snobs» de ateu temporário à leitura…

Esta tosse de existir! Tomara a receita: algo de maneira a lembrar o ritmo verbal da frase. «Que minha morte será o meu melhor exercício de retórica!» E em testamento? Um enterro sem erros de escrita.

(Todo o esdrúxulo da lágrima… Todo ele xingaria o acordo! E em amém tenhamos — teremos de certo — o ortográfico pudor dos gordos cágados do país e da república.)

Recorro à crónica de nenhures para roer o socorro do sentido, a corda do parágrafo final. Dito isto, disto tudo — tenho nada. A dizer assim mesmo.

A dizer a si mesmo, aquando das palavras, para quando a Palavra? Para quando a miséria com rua sem saída, fronteira do esterco nobre da verdade? E para quando o deixarmo‑nos de pastéis poéticos em ponto de quando interrogado?

Reparai! Escravo da música das sílabas, não possuo moral para além do «lenho leve» dos cadernos de escola. Não consigo sorrir sem assunto… por onde passe a rima. Um destino só ter‑se‑á como tal em termos de lexema certo, é certo. Daí o amor ser o melhor e mais possível vaivém com vate…

Desiludam‑se, românticos! Os divórcios são simples casos de desemprego precoce das palavras. Por isso mesmo, caríssimos, namoros morrem na falta de traduções solares e riachos de conversa. Nunca disseram mar onde navegar fosse preciso! Precisavam do cais, locais com pássaros de inveja. Por ventura havia vocábulos aquém da memória a quem não queriam mostrar o nome… Messias da mentira, atrás de reticências covardes!

Covardes? Os velhos, sim, à procura daquilo… que se encontrar, senis seres da esperança! (Vasco da Gama foi somente grande na tormenta.)

Também aqui a ambiguidade brinca com o umbigo do Mundo: dá‑lhe adivinhas, diversos nós górdios. Nós assamos o sentido, churrasco universal!

Eurico de Carvalho

In JN, «Página da Juventude»: 27/12/86.

P.S. — «Perguntais em vós, de certo, que sentido têm estas frases: nunca erreis assim. Despedi‑vos do erro infantil de perguntar o sentido às coisas e às palavras. Nada tem um sentido» (Bernardo Soares).

N.B.Todo este escrito juvenil teve como pano de fundo a velhíssima disputa acerca do acordo ortográfico.

1 Leituras da Montr@:

Blogger Eliane Alcântara. disse...

Eurico, confesso que não li os posts.
Passei para dizer oi e desejar que
tenha uma boa semana.
Volto mais tarde para ler e aprender;
estou fora (de casa - agora).
Abraços.

3:09 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home