SONETO [IX]
DISTÂNCIA
Porque sou cantor, sei dar‑me à distância,
que aqui começa o fermento da altura.
Mas seu preço é dor que sempre dura:
dor branca — crua —, sem desejo ou ânsia,
além da que leva o rio leve ao mar.
E assim se vê longe quem se quis perto
do amor. (E dói‑me.) É mister cantar,
ter de cor a cor de um falcão liberto.
«Que ele suba ao mais alto cume
— e das asas apenas tenha ciúme!»
(Pois eu hei‑de vê‑lo igual à palavra.)
Como? Voando por cima da imagem,
essa mesma em que erra a viagem:
gozo de um solo que nem se lavra.
Eurico de Carvalho
In «O Tecto»,
Ano XIII, n.º 34,
Outubro/2001.
Etiquetas: POESIA
1 Leituras da Montr@:
"Ao longe, ao longe, olhos meus!
Quantos mares em torno de mim,
quanto futuro humiano na aurora!
E por cima de mim... que risonho
silêncio! Que silêncio sem nuvens!"
Um soneto delicado em que a imagem,
palavra, homem, ser e verbo dançam
no recôndito dos pensamentos a abrir
cortina para o vôo interno onde a
distância é companheira e caminho
para as asas.
Tenha uma bela semana, Eurico.
Abraços.
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