domingo, 3 de setembro de 2006

SONETO [IX]

DISTÂNCIA


Porque sou cantor, sei dar‑me à distância,

que aqui começa o fermento da altura.

Mas seu preço é dor que sempre dura:

dor branca — crua —, sem desejo ou ânsia,


além da que leva o rio leve ao mar.

E assim se vê longe quem se quis perto

do amor. (E dói‑me.) É mister cantar,

ter de cor a cor de um falcão liberto.


«Que ele suba ao mais alto cume

— e das asas apenas tenha ciúme!»

(Pois eu hei‑de vê‑lo igual à palavra.)


Como? Voando por cima da imagem,

essa mesma em que erra a viagem:

gozo de um solo que nem se lavra.


Eurico de Carvalho


In «O Tecto»,

Ano XIII, n.º 34,

Outubro/2001.

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1 Leituras da Montr@:

Blogger Eliane Alcântara. disse...

"Ao longe, ao longe, olhos meus!
Quantos mares em torno de mim,
quanto futuro humiano na aurora!
E por cima de mim... que risonho
silêncio! Que silêncio sem nuvens!"
Um soneto delicado em que a imagem,
palavra, homem, ser e verbo dançam
no recôndito dos pensamentos a abrir
cortina para o vôo interno onde a
distância é companheira e caminho
para as asas.
Tenha uma bela semana, Eurico.
Abraços.

12:24 da tarde  

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