terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO POR ESCREVER [VII]

Tenho momentos de leitura (de ver‑me livre de mim!) de pura bulimia. Navego então pelas estantes como quem busca a ilha nunca vista dos olhos azuis da infância. Com os recursos austeros do acaso, recruto de uma só vez a longa série militar de livros de ar fradesco. Encurtando o olhar, qual cego pedinte, consigo folheá‑los com a pressa das lebres. Mas logo a impossibilidade de os ler nesta vida invade o espaço do pó que me cerca. Sobe‑me à boca, súbito, um desgosto: toda a biblioteca parece imitar a pedra tumular da vera morte. Inexplicavelmente.
Eurico de Carvalho

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