terça-feira, 29 de junho de 2010

TRÊS POEMAS DESESPERADAMENTE À PROCURA DA PROSA DA ADOLESCÊNCIA


Sociologismos


Deuses, enfim, satisfeitos, de sandálias e de
ideias claras e visualmente clandestinas,
esquecem a controvérsia do lugar
com a chave mais fácil do Universo

no bolso. A intervalos regulares,
sapientíssimos reclamos (de um quotidiano
distribuído como o trigo no tempo dos romanos)
os atributos seleccionam de um económico par

de sapatos.



Prova dos Nove

Escuta: ductilmente auscultemos a paisagem
a fazer de conta que temos alma. E não importa o erro,
se não for evitável, de ficarmos tristes depois.

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Pensaremos mais tarde num tratado de pintura abstracta.



Símil de Algo Velho de Maneira a não Sê-lo


Resulta da ignorância o problema da raiz, mas,
verdadeiramente, esta só não é problema,
quando perdemos aqueloutra forma de ser no mundo
em desacordo com os pássaros do céu. Porque
o alfabeto das nuvens é demasiadamente ligeiro
para humanos olhos, e para humana compreensão
não basta o voo da ave: seria preciso o socorro
do tempo por vir. E o porvir — desenganado,
julgo — do outro mundo é um tempo: tem

olhos semelhantes à alma de quem lê.


Eurico de Carvalho
In «O Tecto»,


Ano X, n.º 67,

Junho/2010, p. 14.

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