LIÇÃO DE 21 DE NOVEMBRO
«ESTÉTICA, POLÍTICA E ARTES». — No âmbito deste
Seminário, pronunciei, no dia 21 de novembro, pelas 18h, na Sala do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a seguinte lição: A IDEIA
SITUACIONISTA DE AUTENTICIDADE.
Para os leitores desta Montr@, aqui fica o resumo da lição:
A ideia de autenticidade cola-se, qual etiqueta móvel, a
tudo aquilo que se desvia da vigência
(totalitária, diria Debord) do espetáculo. Vejamos um exemplo flagrante: o
desejo. Se ele é autêntico, com certeza que se contrapõe à «pseudonecessidade»
resultante do consumismo capitalista. Mas o próprio filósofo francês reconhece
imediatamente, no que toca à contraposição entre ambos, que se trata de um
fenómeno que não se furta à história. Por outras palavras: tanto a necessidade
como o desejo não surgem ex nihilo,
sendo objeto, como é evidente, de uma modelação social. Não obstante o que
dissemos, Debord não se inibe de reafirmar a autenticidade do desejo que se
opõe à mercantilização da esfera psicossomática do ser humano. De que modo?
Mostrando que «a mercadoria abundante se institui [pela primeira vez] como a
rutura absoluta de um desenvolvimento orgânico das necessidades sociais».
Acresce à abundância mercantil a natureza mecânica do seu crescimento, o que
gera, por seu turno, conforme uma célebre expressão hegeliana, um «mau
infinito»: «um artificial ilimitado,
diante do qual fica desarmado o desejo vivo». Tão‑somente este último, claro
está, merece a etiqueta existencial da autenticidade. Mas qual é a sua medida?
O desenvolvimento orgânico das necessidades sociais? Que devemos entender por
tal? Não será que Debord regride, neste ponto, sem o saber, ao naturalismo
ingénuo que ele próprio, há pouco, quis expulsar? São perguntas que abrem o
campo de uma reflexão crítica sobre o que significa, afinal, num glossário
situacionista, ser autêntico.
Etiquetas: CONFERÊNCIA, Guy Debord
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