terça-feira, 23 de abril de 2019

LIÇÃO DE 21 DE NOVEMBRO




«ESTÉTICA, POLÍTICA E ARTES».  —  No âmbito deste Seminário, pronunciei, no dia 21 de novembro, pelas 18h, na Sala do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a seguinte lição: A IDEIA SITUACIONISTA DE AUTENTICIDADE.

Para os leitores desta Montr@, aqui fica o resumo da lição:

A ideia de autenticidade cola-se, qual etiqueta móvel, a tudo aquilo que se desvia da vigência (totalitária, diria Debord) do espetáculo. Vejamos um exemplo flagrante: o desejo. Se ele é autêntico, com certeza que se contrapõe à «pseudonecessidade» resultante do consumismo capitalista. Mas o próprio filósofo francês reconhece imediatamente, no que toca à contraposição entre ambos, que se trata de um fenómeno que não se furta à história. Por outras palavras: tanto a necessidade como o desejo não surgem ex nihilo, sendo objeto, como é evidente, de uma modelação social. Não obstante o que dissemos, Debord não se inibe de reafirmar a autenticidade do desejo que se opõe à mercantilização da esfera psicossomática do ser humano. De que modo? Mostrando que «a mercadoria abundante se institui [pela primeira vez] como a rutura absoluta de um desenvolvimento orgânico das necessidades sociais». Acresce à abundância mercantil a natureza mecânica do seu crescimento, o que gera, por seu turno, conforme uma célebre expressão hegeliana, um «mau infinito»: «um artificial ilimitado, diante do qual fica desarmado o desejo vivo». Tão‑somente este último, claro está, merece a etiqueta existencial da autenticidade. Mas qual é a sua medida? O desenvolvimento orgânico das necessidades sociais? Que devemos entender por tal? Não será que Debord regride, neste ponto, sem o saber, ao naturalismo ingénuo que ele próprio, há pouco, quis expulsar? São perguntas que abrem o campo de uma reflexão crítica sobre o que significa, afinal, num glossário situacionista, ser autêntico.

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