segunda-feira, 9 de novembro de 2020

CITAÇÃO DE LATÃO

 

    «O problema talvez fosse que, afinal (como a História viria a mostrar), era provável que a maioria dos Russos preferisse uma das bicicletas do Sr. Beable — ou mesmo uma gota do seu vinho tónico — às alegrias da versão de guerra de classes proposta por Lenine. Este suspeitava, obviamente, que fosse assim; “falsa consciência” foi a expressão que alguns marxistas empregaram para aludir ao gosto das pessoas pelo mero conforto.»

Catherine Merridale

In Lenine no Comboio (2016). Trad. de Artur Lopes Cardoso. Lisboa: Temas e Debates‑Círculo de Leitores, 2017, p. 300.


COMENTÁRIO

    De uma forma ignara, mas pretensamente jocosa, Catherine Merridale reduz a quase nada (com a vista curta dos merceeiros) um dos maiores problemas da filosofia social e política: a natureza da «falsa consciência».

    Se os seus créditos filosóficos são o que são, talvez tenha outros, porventura, quem se apesenta como historiadora. Enquanto tal, contudo, não parece perfilhar o dever da imparcialidade. A prova disso é o seu retrato estalinista de Lenine. Deste último, sintomaticamente, omite o testamento político, de modo que a sombra de Estaline se projecte sobre a figura do principal mentor da Revolução Russa.

Eurico de Carvalho

    P.S. — A tradução portuguesa é lamentável. Além dos estrangeirismos desnecessários (v.g.: «massiva», «recorde» e «eclodir»), são várias as confusões lexicais (entre, por exemplo, as seguintes palavras: «proeminente» e «preeminente»; «quando» e «aquando»; «alugar» e «arrendar»). A tudo isto acresce o desrespeito pela regência preposicional de alguns verbos (vd. «necessitar» e «precisar») e, ainda, o desconhecimento de que os nomes próprios, à semelhança dos comuns, também admitem o plural [os Lenines, pois, e não «os Lenine» (cf. p. 97)].

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