terça-feira, 27 de junho de 2006

MANIFESTO EM FORMA DE SER


1. Em defesa de sermos proponho o Poema.

1.1. Para que o poeta — e cito — tudo sinta e cumpra o pastoreio do Ser.

1.2. A saber o sabor sóbrio da Palavra.

1.3. A dizer‑se alegre sem esforço fácil.

1.4. Em falar a fala do falo.

1.5. Eu falo.


2. Em defesa de sermos sonho‑me muito.

2.1. Que sempre aprendi a prosa de vir‑me.

2.2. Que quero querer aquilo que quero.

2.3. Como aliás a lilás ali possa.

2.4. Pois perder‑me da morte é ter‑me agora.

2.5. E agora creio por recreio.


3. Em defesa de sermos desamarro a muralha.

3.1. Acho‑me em achar.

3.2. E racho a acha do archote.

3.3. E adivinho o vinho de ver‑vos.

3.4. Onde por ver‑vos beba o Verbo.

3.5. Sou e assumo o sumo de mim.


4. Em defesa de sermos desde o adeus digo.

4.1. O desejo cedo ceda à sede da ceda.

4.2. Porque porquê é de mais perguntar à pergunta.

4.3. Logo resposta posta ao rés‑do‑chão.

4.4. Se válido é o já lido lado vão.

4.5. Se ser é desviar‑se sendo a larva borboleta.


5. Em defesa de sermos desloco o óculo.

5.1. Alugo a carruagem sem janelas lendo olhos.

5.2. Se nelas a viagem gera o logro da aragem

5.3. Se nelas neles as sentinelas são.

5.4. É sermos sem sermão.

5.5. E se a dor me ser seja quase adormecer.



Eurico de Carvalho

In Campo Alegre — Colectânea de Poemas,

Porto, 1986.

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