CITAÇÃO DE PLATINA [LXII]

     «O actual fascínio pelas redes sociais […] torna evidente que a única utopia que continua viva é a da desintermediação.»

Daniel Innerarity

In Política para Perplexos (2019). Trad. de Francisco Agarez. Porto: Porto Editora, 2019, p. 40.

 

COMENTÁRIO

    As utopias despertam (quantas vezes?) os piores monstros da Humanidade. Aquela a que se refere Innerarity já tem o seu: Donald Trump. Como nele, no entanto, tudo é postiço e mesquinho, trata‑se, enfim, de um pequeno monstro.

    Sem as redes sociais, Trump teria sido Trump? Muito provavelmente, não! Quem o derrotou, de resto, não foi Biden (não sejamos ingénuos!), mas o vírus (ironia da História…) que ele quis varrer para debaixo do tapete da Sala Oval. Depois, esperneando‑se histericamente num pântano de mentiras e desespero, não podendo já silenciar o impacto devastador da pandemia, serviu‑se da estratégia — primitiva — do bode expiatório, cunhando xenofobamente o vírus com o selo milenar da China. Era tarde, porém, de nada lhe tendo valido o apelo nacionalista. Para a posteridade, malgré lui, fica a imagem — assassina — que resume a sua presidência histriónica: o assalto hollywoodesco ao Capitólio.

Eurico de Carvalho