sábado, 12 de março de 2022

PELOURINHO DA LÍNGUA PORTUGUESA [II]

 

Na edição de ontem do Público (mais precisamente, na sua página vinte e dois), podemos ler o seguinte subtítulo de uma notícia acerca da crescente implantação institucional da extrema‑direita espanhola: «Acordo é “perfeitamente legítimo”, defende futuro presidente do PP, enquanto o actual líder conservador se desmarca [sic] da coligação assinada com o Vox». Obviamente, onde está «se desmarca» deveria estar (em bom português!) «se demarca». Quem produz a peça confunde, é certo, dois verbos distintos: desmarcar (tirar a marca, o marco ou a marcação) e demarcar (delimitar), em cuja conjugação pronominal reflexa sobressai, porém, outro sentido, ou seja, o de distanciar-se. Nasce a confusão, porventura, por influência da gíria futebolística, na qual, no entanto, desmarcar‑se não significa propriamente distanciar‑se do adversário, mas escapar à sua marcação (cf. Monteiro, Manuel, Dicionário de Erros Frequentes da Língua. Oeiras: Soregra Editores, 2015, p. 46).

Eurico de Carvalho

P. S. — Não será possível exterminar o anglicismo líder? Afinal, já não há dirigentes nem chefes? Onde estão os estrategos e condutores? Também morreram caudilhos e guias, cabecilhas e comandantes? Assim se empobrece a belíssima língua portuguesa!

 

 

 

Etiquetas:

0 Leituras da Montr@:

Enviar um comentário

<< Home