quinta-feira, 14 de julho de 2022

PELOURINHO DA LÍNGUA PORTUGUESA [VII]

 

Não há linguagem alguma que seja neutra ou inocente. Quem tem a pretensão contrária (vítima auto‑eleita, porventura, das ilusões totalitárias do que se entende por «politicamente correcto»), só pode estar enganado, tanto mais que, em plena globalização, nada parece escapar à lógica especulativa do capital. Quer isto dizer que assistimos impotentemente à paulatina actualização da possibilidade — inumana — de transformação do mundo em mera mercadoria. Desta mercantilização (imparável, aliás) são inúmeros os sinais diários. Eis um deles: «Treinador do [ManchesterUnited garante que Ronaldo não está à venda» (Público, 12/7/2022, p. 38). Pese embora o que acima dissemos, não deixa de ser chocante o modo como se intitula a notícia acerca das vicissitudes da relação contratual entre o clube britânico e o atleta português. Será escravo o Ronaldo? Poderá o madeirense estar à venda? Ora, por muita contextualização que se faça do uso jornalístico de certos termos mercantis, trata‑se objectivamente de um linguajar que viola a dignidade de qualquer um de nós.

Eurico de Carvalho

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