terça-feira, 24 de outubro de 2023

NOVOS PROLETÁRIOS: OS CIENTISTAS PORTUGUESES

 


A comunidade de investigadores portugueses é composta, na sua maior parte, por membros do “precariado”: o novo proletariado do século XXI. Como é que um cientista, perguntar‑se‑á, pode ser um trabalhador precário? Será possível fazer ciência, no pleno sentido do termo, num contexto de exploração laboral? Sabemos bem que a neoliberalização das relações entre o capital e o trabalho, em completo desfavor deste último, não conhece fronteiras, estando igualmente ao serviço da mercantilização do saber. Mas o caso lusitano acrescenta, relativamente ao neoliberalismo reinante, uma particularidade perversa: o facto de ser mais importante ter conhecimentos, neste rectângulo paroquial, do que procurar conhecimento. É, pois, sob o pano de fundo da cultura da “cunha”, que impregna todos os estratos da nossa sociedade, que se torna deveras cruciante o cenário de precariedade da investigação científica. Assim sendo, quem lhe pode exigir que cumpra o seu papel de motor de desenvolvimento do país? Ninguém!

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 12 131 (18 de Julho de 2023), p. 6.

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