domingo, 4 de setembro de 2022

GORBATCHOV, O HOMEM QUE MUDOU O MUNDO

 

De quando em vez (di‑lo Hegel algures), a História calça as suas botas de sete léguas. Calçou‑as, de facto, no dia 11 de Março de 1985: a data da tomada de posse — como secretário‑geral do Partido Comunista da União Soviética — de um filho de camponeses (de seu nome, Mikhail Gorbatchov).

Na hora da sua morte, que devemos imprimir na pedra tumular? Isto: sem pedir licença à teoria marxista da História, Gorbatchov mudou o mundo. Da queda do Muro de Berlim (1989) à implosão da URSS (1991), passando ainda pela reunificação alemã (1990), eis uma série imprevisível de acontecimentos. Em sete anos apenas, portanto, o último presidente do Politburo tornou‑se o verdadeiro destruidor (involuntário?) da ordem de Ialta (1945), com o consequente fim da Guerra Fria.

Sendo um ídolo do Ocidente, que lhe outorgou um Prémio Nobel em 1990, continua a ser, porém, para a maioria dos russos, um traidor. Com o seu adeus, abre‑se a porta para o juízo do tempo, o qual não se confunde, por certo, com o dos homens que lhe recusaram o funeral de Estado.

 

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 11 816 (4 de Setembro de 2022), p. 6.

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