domingo, 4 de setembro de 2022

JOÃO MIGUEL TAVARES E AS ELITES PORTUGUESAS

 

Nada de novo nos traz a crónica de João Miguel Tavares sobre a responsabilidade das elites portuguesas pelo atraso de Portugal em relação à Europa (cf. Público, 25/8/22, p. 48). Muito antes dele, o maior escritor de ideias do século XX português, ou seja, António Sérgio, esse esquecido, já tinha alertado o país para o nosso drama: «Uma das razões dessa antiga indigência — dizia ele lapidarmente — é que as classes superiores do nosso país nunca foram um escol no rigor do termo, isto é, que nunca dirigiram o trabalho do obreiro, que nunca se esforçaram pelo seu progresso, que nunca o impulsionaram com os exemplos úteis, que nunca exerceram uma direcção social.» Atentando maximamente no grifo, que é nosso, será mesmo necessário algum considerando suplementar? A realidade grita à nossa volta!

Mas o que deveras surpreende o leitor do Público é a desmesurada anglofilia de J. M. T. É chocante, em especial, o seu boçal fascínio pelo escol britânico. Para o ilustrar, J. M. T. apresenta‑nos o exemplo de Churchill. Saberá o cronista que o seu bem‑amado chefe dos conservadores ingleses perdeu as eleições em 1945? Porquê? Seria bom que pesquisasse o assunto.

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 11 810 (29 de Agosto de 2022), p. 4.

P. S. — Eis um passo suculento da crónica a que nos referimos: «Não pretendo que as elites sejam abolidas — pelo contrário, desejo que sejam transformadas, para que um dia possam estar à altura do seu nome, e comecem a fabricar os seus Churchill [sic].» Além de ler biografias sobre Churchill, seria bom que o cronista tivesse à mão um prontuário. Em português de lei, com efeito, pluralizam‑se os nomes próprios. Assim sendo, J. M. T. deveria ter escrito Churchills.

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