A GRANDE ILUSÃO DOS MANUAIS DIGITAIS
Relativamente
à colonização digital dos processos de ensino e aprendizagem, já são muitos os
sinais vermelhos que emitem os países mais avançados nessa área. (Veja‑se o
caso, por exemplo, da Suécia.) Pesem embora esses avisos, o Ministério da
Educação insiste cegamente em experimentalismos tecnocêntricos, querendo agora
acelerar a introdução dos manuais digitais no Ensino Básico.
Pois
bem. Contra a digitalização dos suportes da leitura e da escrita, é preciso
defender as virtudes didácticas do livro de papel. A sua linearidade, desde
logo, facilita a assimilação da informação. Por não serem flutuantes, além
disso, as suas páginas, temos a garantia de que esta estabilidade gráfica
potencia a atenção, cuja maximização (indispensável à compreensão do que se lê)
é o principal recurso pedagógico da aula. (Sem ela, realmente, nada funciona.)
A tudo isto acresce, por outro lado, o relativo isolamento tecnológico do livro
de papel, no qual não podem entrar (contrariamente ao que se passa com o livro electrónico)
outros dispositivos, ou seja, susceptíveis de competir com a leitura,
parasitando‑a irreversivelmente.
Em
suma: não é pedagogicamente neutra nem positiva a transferência do livro para suportes
informáticos, sendo previsíveis, de resto, as suas consequências perversas
(equivalentes, aliás, nos domínios da leitura e da escrita, às que resultaram,
no âmbito do cálculo mental, do uso precoce das máquinas de calcular).
Eurico de Carvalho
In Público, n.º 12 188 (13
de Setembro de 2023), p. 6.
Etiquetas: CENA DIDÁCTICA
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