A VIDEOVIGILÂNCIA E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Não é preciso ter lido Foucault para
compreender que a presente expansão dos sistemas de videovigilância nas nossas
cidades constitui uma ameaça aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Trata‑se de uma estratégia securitária cujo alcance vai muito além da suposta
prevenção da criminalidade: o que temos aqui é um dispositivo de normalização
de comportamentos. Quem sabe que está a ser vigiado, com efeito, adopta a
máscara que se pretende que ele use. Por outras palavras: a simples observação
de condutas é já uma forma de as dominar.
Com a multiplicação exponencial das
câmaras de televisão, é o próprio espaço urbano que se reterritorializa sob a
figura sinistra de uma prisão de alta segurança. Nem o inventor do Panopticon (o cárcere ideal de Bentham)
teria imaginado tal possibilidade: a generalização dos mecanismos panópticos
enquanto instrumentos de controlo dos movimentos das populações (e não apenas
dos reclusos). Pois bem. Que as pessoas estejam disponíveis para trocar a
liberdade pela segurança, eis o que mais deve preocupar quem preza o futuro da
democracia.
Eurico de Carvalho
In Público, n.º 12 212 (7 de
Outubro de 2023), p. 6.
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