A DIMINUIÇÃO DO ABANDONO ESCOLAR: UMA VITÓRIA DE PIRRO?
Todas as moedas têm duas faces.
Trata‑se de um truísmo que podemos ilustrar com o sucesso (flor na lapela de sucessivos governos!) do combate ao abandono
escolar. Ao longo dos últimos anos, a sua gradual e significativa diminuição
merece o aplauso da sociedade. Mas importa avaliar igualmente os custos sistémicos
(ocultos, até) dessa esplendorosa descida. Deste lado da análise, todavia,
parece ser de Pirro a vitória do sistema educativo. Assistimos, com efeito, à
paulatina transformação da escola pública numa instituição de assistência
social e/ou animação cultural. Concomitantemente, é notório o descrédito social
dos diplomas escolares. Com o alargamento da escolaridade obrigatória, ademais,
até aos 18 anos (em flagrante contradição, aliás, com o Código de Trabalho, no
qual se estabelece o marco dos 16 como idade mínima para trabalhar), não
devemos varrer para debaixo do tapete um novo fenómeno: a silenciosa
transferência — da rua para os estabelecimentos de ensino — de muitos
comportamentos anti‑sociais, com a consequente «normalização» institucional da
delinquência juvenil.
Perante tudo isto, impõe‑se a
pergunta: Será surpresa para alguém o
aumento exponencial do mercado do ensino privado? Obviamente, não!
Eurico de Carvalho
In Público, n.º 12 293
(28 de Dezembro de 2023), p. 6.
Etiquetas: CENA DIDÁCTICA
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