A «CARNAVALIZAÇÃO» DE PORTUGAL
Nestes dias que antecedem o Entrudo, quando o Zé Povinho prepara a máscara
com que quer reinar na rua, agudiza‑se a consciência de que a «carnavalização»
do real parece ser uma constante da paisagem mediática do nosso tempo. Disso
mesmo são exemplo os especialistas que assumem a pele de «tudólogos» — e
os discípulos da «tudologia» que se julgam senhores de todas as especialidades.
Há também comentadores que se tornam presidentes, havendo ainda quem seja
presidente sem largar a casaca de comentador.
A tudo isto acresce, entretanto, a fauna característica da «futebolândia»:
ex‑jogadores que falam com os pés — e faladores que jogam com as mãos de quem
lhes segura o microfone. Não podemos esquecer, no entanto, os «treinadores de
bancada» que pululam nas redes sociais, cujo «futebol falado» não fica atrás do
da bancada de treinadores que estão nas prateleiras (perdão!, câmaras) das
estações de televisão. Num ritmo imparável, aliás, qual corso carnavalesco,
sucedem‑se as figuras e os figurões, e o pequeno ecrã assemelha‑se cada vez
mais a um ringue de boxe amador. Mas ninguém leva a mal… Não é Carnaval? Neste
inteiro Portugal, sempre!
Eurico de Carvalho
In Público,
n.º 12 335 (9 de Fevereiro de 2024), p. 4.
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