quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A «CARNAVALIZAÇÃO» DE PORTUGAL

 

Nestes dias que antecedem o Entrudo, quando o Zé Povinho prepara a máscara com que quer reinar na rua, agudiza‑se a consciência de que a «carnavalização» do real parece ser uma constante da paisagem mediática do nosso tempo. Disso mesmo são exemplo os especialistas que assumem a pele de «tudólogos»  — e os discípulos da «tudologia» que se julgam senhores de todas as especialidades. Há também comentadores que se tornam presidentes, havendo ainda quem seja presidente sem largar a casaca de comentador.

A tudo isto acresce, entretanto, a fauna característica da «futebolândia»: ex‑jogadores que falam com os pés — e faladores que jogam com as mãos de quem lhes segura o microfone. Não podemos esquecer, no entanto, os «treinadores de bancada» que pululam nas redes sociais, cujo «futebol falado» não fica atrás do da bancada de treinadores que estão nas prateleiras (perdão!, câmaras) das estações de televisão. Num ritmo imparável, aliás, qual corso carnavalesco, sucedem‑se as figuras e os figurões, e o pequeno ecrã assemelha‑se cada vez mais a um ringue de boxe amador. Mas ninguém leva a mal… Não é Carnaval? Neste inteiro Portugal, sempre!

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 335 (9 de Fevereiro de 2024), p. 4.  

 

 


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