DESABAFOS [II]
Num poema sobre Salazar, Sophia acertava no alvo: «O velho abutre é sábio e alisa as suas penas/ A podridão lhe agrada e seus discursos/ Têm o dom de tornar as almas mais pequenas.» O seminarista de Santa Comba Dão fizera de Portugal uma paróquia de bufos e beatas. Dizia‑se então: «A minha política é o trabalho!» Ainda hoje pagamos o preço da ditadura: a imaturidade cívica. Qual o luso ideal? Podemos resumi‑lo neste justíssimo rótulo: a vidinha. Não há português que se preze que não a queira ter. Em que consiste a dita? Numa lista mais ou menos finita de diminutivos: a casinha, o carrinho, a viagenzinha de férias e, claro, asinha alimentando tudo isto, o crédito bancário. Mas é o país, no seu todo, que vive acima das suas posses, buscando em Bruxelas o novo ouro do Brasil.
Eurico de Carvalho
In «O Tecto»,
Ano XVIII, n.º 54,
Julho/2006, pág. 2.
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