quarta-feira, 27 de março de 2024

HITLER & TRUMP

 

Provavelmente, Hitler não teria sido Hitler sem o “tambor da tribo”, ou seja, a rádio, cujo meio técnico, potenciando o seu magnetismo vocal, deu ao ditador um poder imenso sobre as massas. Tê‑lo‑ia perdido, porventura, se estivesse em voga, então, o fenómeno televisivo. Por ser manifesto o carácter histriónico e «chaplinesco» da figura de Hitler, ter‑lhe‑ia retirado a aura mediática, por certo, a constante associação do som à imagem.

Vem tudo isto a propósito da confirmação da candidatura presidencial de Trump. Assim sendo, e à semelhança do anterior raciocínio contrafactual, impõe‑se novamente a pergunta sobre o impacto propagandístico das tecnologias de informação e comunicação: Sem as redes sociais, Trump seria Trump, isto é, um perigo para a democracia? Sabemos que a resposta é tendencialmente negativa, o que mostra bem a importância de uma regulamentação do ciberespaço, sem a qual, de facto, continuará a ser o terreno eleito dos demagogos.

Urge ter presente, por fim, a trajectória de Hitler: a sua ascensão ao poder — note‑se! — fez‑se pela via democrática. — Eis uma lição da História que deveria ser objecto de um resgate diário do esquecimento…

 

 Eurico de Carvalho

 In Público, n.º 12 381 (26 de Março de 2024), p. 8.

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