HITLER & TRUMP
Provavelmente, Hitler não
teria sido Hitler sem o “tambor da tribo”, ou seja, a rádio, cujo meio técnico,
potenciando o seu magnetismo vocal, deu ao ditador um poder imenso sobre as
massas. Tê‑lo‑ia perdido, porventura, se estivesse em voga, então, o fenómeno televisivo.
Por ser manifesto o carácter histriónico e «chaplinesco» da figura de Hitler,
ter‑lhe‑ia retirado a aura mediática, por certo, a constante associação do som
à imagem.
Vem tudo isto a propósito da
confirmação da candidatura presidencial de Trump. Assim sendo, e à semelhança
do anterior raciocínio contrafactual, impõe‑se novamente a pergunta sobre o
impacto propagandístico das tecnologias de informação e comunicação: Sem as redes sociais, Trump seria Trump,
isto é, um perigo para a democracia? Sabemos que a resposta é tendencialmente
negativa, o que mostra bem a importância de uma regulamentação do ciberespaço,
sem a qual, de facto, continuará a ser o terreno eleito dos demagogos.
Urge ter presente, por fim, a
trajectória de Hitler: a sua ascensão ao poder — note‑se! — fez‑se pela via democrática.
— Eis uma lição da História que deveria ser objecto de um resgate diário do
esquecimento…
Eurico
de Carvalho
In Público, n.º
12 381 (26 de Março de 2024), p. 8.
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