VOTOS RESPEITÁVEIS? NEM TODOS!
A
propósito dos votos que alimentaram o crescimento exponencial da extrema‑direita
(mais de um milhão, aliás), há quem tenha posto a circular a tese de que, em
democracia, merecem o mesmo crédito todas as cruzes dos eleitores. São muito
fortes as razões, porém, que mostram a inânia desse ecumenismo deslavado. Primo: Entre quem vota e o seu voto, sob
pena de estarmos perante casos de vil oportunismo ou acefalia, não pode haver
dissenso ideológico. Secundo: Todo
aquele que toma a decisão de votar num partido racista e xenófobo torna‑se
responsável, ipso facto, pela
«normalização» do racismo e da xenofobia, cujos mecanismos de ostracização do
outro são obviamente incompatíveis com valores democráticos. Tertio: Dos argumentos aduzidos resulta
o corolário (e eis o grande paradoxo da democracia) de que existem votos
antidemocráticos. Enquanto tais, por conseguinte, não devem merecer respeito
algum por parte dos democratas, a não ser que eles queiram transformar‑se nos
seus próprios coveiros, o que não seria (ai de nós!) novidade histórica.
Eurico de Carvalho
In Público, n.º 12 386 (31
de Março de 2024), p. 4.
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