domingo, 31 de março de 2024

VOTOS RESPEITÁVEIS? NEM TODOS!

 

A propósito dos votos que alimentaram o crescimento exponencial da extrema‑direita (mais de um milhão, aliás), há quem tenha posto a circular a tese de que, em democracia, merecem o mesmo crédito todas as cruzes dos eleitores. São muito fortes as razões, porém, que mostram a inânia desse ecumenismo deslavado. Primo: Entre quem vota e o seu voto, sob pena de estarmos perante casos de vil oportunismo ou acefalia, não pode haver dissenso ideológico. Secundo: Todo aquele que toma a decisão de votar num partido racista e xenófobo torna‑se responsável, ipso facto, pela «normalização» do racismo e da xenofobia, cujos mecanismos de ostracização do outro são obviamente incompatíveis com valores democráticos. Tertio: Dos argumentos aduzidos resulta o corolário (e eis o grande paradoxo da democracia) de que existem votos antidemocráticos. Enquanto tais, por conseguinte, não devem merecer respeito algum por parte dos democratas, a não ser que eles queiram transformar‑se nos seus próprios coveiros, o que não seria (ai de nós!) novidade histórica.

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 386 (31 de Março de 2024), p. 4.  

 

 


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