O ESTRANHO CASO DAS LOJAS SEM CLIENTES
Quem
não se interrogou já sobre a existência de lojas (notoriamente, sem clientes)
que parecem ter o dom de estar acima das regras de mercado? A sua aparente
inviabilidade económica salta à vista de todos, mas o segredo que as guarda
escapa a qualquer mortal (conhecedor da lei da oferta e da procura). Na maioria
dos casos, as montras exibem produtos de luxo (em especial, nas áreas de
vestuário e decoração — ou cujo mister é manifestamente bissexto). Seja como
for, serão legítimas, a seu respeito, certas dúvidas que assediam o pensamento
do mais ingénuo dos transeuntes (particularmente, quando se ganha a coragem de
entrar num desses santuários de consumo conspícuo: o ar distante com que nos
atendem, após uma descoroçoada espera, aliás, atrai a suspeita de que a
clientela constitui o incómodo indispensável à preservação de um cenário
comercial de papelão).
Posto
isto, entremos mais ao claro (como diria Camilo) no assunto opaco que aqui nos
traz. É fácil concluir que estamos perante a mera fachada de negócios que ultrapassam
o espírito empreendedor dos merceeiros da nossa infância. E da parte das autoridades — perguntar‑se‑á — não seria de esperar um
zelo inquisitivo susceptível de garantir maior transparência da vida pública?
Pois bem. Esperemos que este alerta não tenha por destino o costumeiro encolher
de ombros dos que ziguezagueiam por entre o “nacional‑porreirismo” e o “chico‑espertismo”…
Eurico de Carvalho
In Expresso, n.º 2 689 (10
de Maio de 2024), p. 33.
P. S. — Quanto à referência camiliana, poderá o leitor
encontrá‑la na página 137 de uma certa edição d’A Doida do Candal.
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