CONFERÊNCIA DE 10 DE DEZEMBRO DE 2013
«ESTÉTICA, POLÍTICA E ARTES —Seminário Aberto de Investigação (2013)». — No âmbito deste encontro, pronunciei,
na passada terça‑feira, pelas 17h30, na Sala de Reuniões da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto, a comunicação que se segue: Guy Debord e Althusser: Um Diálogo Impossível
(Em Torno da Questão da Subjetivação).
Para os leitores desta Montr@, aqui fica o
resumo da minha intervenção:
Como é que um indivíduo se torna
sujeito? Como é que ele subjetiva o ser que lhe é próprio? Há quem veja nesta
pergunta, a da subjetivação, a questão, por excelência, da filosofia marxiana.
Ademais, devemos a Althusser, segundo Slavoj Žižek, a melhor formulação deste
problema, ao qual, por outro lado, também responde, apelando para o modelo
ideológico da interpelação. Aqui,
contudo, mais do que a resposta althusseriana, interessa‑nos avaliar o modo
como Debord, ainda que não se interrogue explicitamente sobre a matéria, se
distancia, de facto, desse paradigma estruturalista. É, pois, o contraste entre
as duas posições o que convém realçar, de molde a fazer sobressair a particularidade
da estratégia debordiana de subjetivação.
Quando
comparamos os modelos debordiano e althusseriano de subjetivação, verifica-se
imediatamente que o segundo, ao invés do primeiro, pressupõe uma hierarquia (em
última instância: um senhor e um escravo). É por isso que se torna fácil de
compreender, neste nível de análise, o privilégio que Althusser atribui à
ilustração cristã do funcionamento do mecanismo ideológico. Parece até que a
encarnação exemplar da subjetivação, à luz da hipótese de uma «culpabilidade
originária», coincide integralmente com a atitude religiosa. Além de ser
hierárquica, a interpelação revela uma estrutura especular, que é própria, para
Althusser, de toda a ideologia.
À
performatividade mecânica da interpelação
ideológica, que convida à resignação, opõe-se, em Debord, a perspetiva
revolucionária de uma comunicação
total e transparente, i.e., que seja
uma «conspiração entre iguais». Mas trata-se de uma comunicação poética, que pretende fazer da Revolução
uma questão de estilo.
Eurico Carvalho
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