sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

CATARINA EUFÉMIA: 70 ANOS DEPOIS

 

Nos setenta anos do assassínio infame de Catarina Eufémia (triplamente baleada pelas costas — e com um filho nos braços — por um esbirro da G. N. R.), Baleizão já não é o que era: torrão sagrado do Partido Comunista. Da hagiografia da resistência ao Estado Novo, que morreu de velho, resta agora a estátua — a heroificar a revolta de quem queria apenas pão que matasse a fome dos seus.

Quanto ao Alentejo, que nunca foi o “celeiro de Portugal” da mitologia salazarista, tem perdido o amarelo das searas — em prol de um mar cinzento de estufas e painéis solares. E, por entre milhares de imigrantes que aí trabalham, miseravelmente pagos e explorados pelas redes de tráfico de pessoas, novas Catarinas haverá? De outras cores e falas, quantas gritaram já — sem voz? Não temos certezas, mas as lonjuras alentejanas continuam a ser o que sempre foram: grande pasto das dores dos humilhados e ofendidos da Terra.

 

Eurico de Carvalho

 

In Expresso, n.º 2 691 (24 de Maio de 2024), p. 33.


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"EMPRESARIALIZAÇÃO" DAS UNIVERSIDADES

 

A “empresarialização” das universidades é um dos traços mais sinistros do incremento neoliberal da mercantilização do saber. Mas houve um tempo em que se guardava ciosamente tal segredo de polichinelo. Já passou, porém, esse tempo. É sem pudor algum, de facto, que hoje se anuncia publicamente o carácter económico, strictu sensu, da actividade desenvolvida pelo Ensino Superior, cujo corolário passa a ser o seguinte: “A produção de conhecimento deve ser uma consequência dessa actividade económica” (Público, 25/5/24, p. 22). Nestas palavras do Presidente da Associação de Universidades Privadas, António Almeida Dias, reflecte‑se o pensamento unidimensional do neoliberalismo, de acordo com o qual, claro está, alunos e professores são, respectivamente, clientes e prestadores de serviços. Ora, sabemos bem os efeitos deletérios da subordinação da gestão das instituições universitárias aos critérios capitalistas de rendibilidade financeira de curto prazo, merecendo destaque, entre outros, o afunilamento tecnocrático da investigação científica, a desnaturação clientelar da relação pedagógica e, acima de tudo, a ruína das Humanidades.

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 444 (28 de Maio de 2024), p. 8.

 

 

 


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domingo, 19 de maio de 2024

OS ECRÃS DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

     Na sua obra‑prima, Fahrenheit 451, Ray Bradbury retrata a distopia de um mundo totalitário, no qual os bombeiros queimam livros, ou seja, os instrumentos de bordo da liberdade. É esta, aliás, a faceta mais conhecida do opus magnum — de 1953 — do autor estado‑unidense. Menos sabidas, porém, são as circunstâncias domésticas em que se movem as personagens (totalmente alienadas pela omnipresença dos ecrãs, cujos conteúdos telenovelescos preenchem o vazio das suas vidas). Eis‑nos, de facto, perante uma antecipação extraordinária do que hoje conhecemos por reality show.

    Posto isto, podemos compreender melhor a recente comoção mediática (envolvendo até a abertura de telejornais!) em torno das cenas da vida conjugal de um par excêntrico e televisivo. É a prova de que a espectacularização do real já pretende eludir as fronteiras entre informação e entretenimento — com vista à intoxicação da opinião pública.

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 12 432 (16 de Maio de 2024), p. 6.




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sábado, 11 de maio de 2024

O ESTRANHO CASO DAS LOJAS SEM CLIENTES

 

Quem não se interrogou já sobre a existência de lojas (notoriamente, sem clientes) que parecem ter o dom de estar acima das regras de mercado? A sua aparente inviabilidade económica salta à vista de todos, mas o segredo que as guarda escapa a qualquer mortal (conhecedor da lei da oferta e da procura). Na maioria dos casos, as montras exibem produtos de luxo (em especial, nas áreas de vestuário e decoração — ou cujo mister é manifestamente bissexto). Seja como for, serão legítimas, a seu respeito, certas dúvidas que assediam o pensamento do mais ingénuo dos transeuntes (particularmente, quando se ganha a coragem de entrar num desses santuários de consumo conspícuo: o ar distante com que nos atendem, após uma descoroçoada espera, aliás, atrai a suspeita de que a clientela constitui o incómodo indispensável à preservação de um cenário comercial de papelão).

Posto isto, entremos mais ao claro (como diria Camilo) no assunto opaco que aqui nos traz. É fácil concluir que estamos perante a mera fachada de negócios que ultrapassam o espírito empreendedor dos merceeiros da nossa infância. E da parte das autoridades — perguntar‑se‑á — não seria de esperar um zelo inquisitivo susceptível de garantir maior transparência da vida pública? Pois bem. Esperemos que este alerta não tenha por destino o costumeiro encolher de ombros dos que ziguezagueiam por entre o “nacional‑porreirismo” e o “chico‑espertismo”…

 

Eurico de Carvalho

In Expresso, n.º 2 689 (10 de Maio de 2024), p. 33.

 

 

P. S. — Quanto à referência camiliana, poderá o leitor encontrá‑la na página 137 de uma certa edição d’A Doida do Candal.

 

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sábado, 4 de maio de 2024

PELOURINHO DA LÍNGUA PORTUGUESA [XXXV]

 


Qual é o plural de campus? Como se trata de um termo latino, a resposta parece óbvia: campi. Mas não o é, de facto, para alguns jornais… Veja‑se, por exemplo, o título que se segue: «Tensão cresce nos campus [sic] dos EUA» (Expresso, 3/5/24, p. 26). — Aqui temos mais uma prova de que o desconhecimento da língua de Vergílio abre a porta para inúmeros disparates!

Eurico de Carvalho

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domingo, 31 de março de 2024

VOTOS RESPEITÁVEIS? NEM TODOS!

 

A propósito dos votos que alimentaram o crescimento exponencial da extrema‑direita (mais de um milhão, aliás), há quem tenha posto a circular a tese de que, em democracia, merecem o mesmo crédito todas as cruzes dos eleitores. São muito fortes as razões, porém, que mostram a inânia desse ecumenismo deslavado. Primo: Entre quem vota e o seu voto, sob pena de estarmos perante casos de vil oportunismo ou acefalia, não pode haver dissenso ideológico. Secundo: Todo aquele que toma a decisão de votar num partido racista e xenófobo torna‑se responsável, ipso facto, pela «normalização» do racismo e da xenofobia, cujos mecanismos de ostracização do outro são obviamente incompatíveis com valores democráticos. Tertio: Dos argumentos aduzidos resulta o corolário (e eis o grande paradoxo da democracia) de que existem votos antidemocráticos. Enquanto tais, por conseguinte, não devem merecer respeito algum por parte dos democratas, a não ser que eles queiram transformar‑se nos seus próprios coveiros, o que não seria (ai de nós!) novidade histórica.

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 386 (31 de Março de 2024), p. 4.  

 

 


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quarta-feira, 27 de março de 2024

HITLER & TRUMP

 

Provavelmente, Hitler não teria sido Hitler sem o “tambor da tribo”, ou seja, a rádio, cujo meio técnico, potenciando o seu magnetismo vocal, deu ao ditador um poder imenso sobre as massas. Tê‑lo‑ia perdido, porventura, se estivesse em voga, então, o fenómeno televisivo. Por ser manifesto o carácter histriónico e «chaplinesco» da figura de Hitler, ter‑lhe‑ia retirado a aura mediática, por certo, a constante associação do som à imagem.

Vem tudo isto a propósito da confirmação da candidatura presidencial de Trump. Assim sendo, e à semelhança do anterior raciocínio contrafactual, impõe‑se novamente a pergunta sobre o impacto propagandístico das tecnologias de informação e comunicação: Sem as redes sociais, Trump seria Trump, isto é, um perigo para a democracia? Sabemos que a resposta é tendencialmente negativa, o que mostra bem a importância de uma regulamentação do ciberespaço, sem a qual, de facto, continuará a ser o terreno eleito dos demagogos.

Urge ter presente, por fim, a trajectória de Hitler: a sua ascensão ao poder — note‑se! — fez‑se pela via democrática. — Eis uma lição da História que deveria ser objecto de um resgate diário do esquecimento…

 

 Eurico de Carvalho

 In Público, n.º 12 381 (26 de Março de 2024), p. 8.

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quinta-feira, 14 de março de 2024

A DESVENTURADA DERROTA DA ESQUERDA

 A caminho do cinquentenário de Abril, são quase cinquenta os deputados da extrema‑direita que vão ter assento na Assembleia da República. Quem diria? Mais do que tecer elegias sobre cravos murchos, importa que nos interroguemos acerca das causas desta alteração (estrutural?) das forças parlamentares. Como o terramoto eleitoral teve o seu epicentro no Sul do país, onde era rotineiro o domínio da esquerda (incapaz de responder aos desafios da globalização), aí devemos procurar os motivos da sua derrota. Entre eles, naturalmente, ressaltam as graves disfunções de uma economia sazonal aberta, favorecendo, pois, os fluxos clandestinos de imigrantes — e a multiplicação dos descamisados do turismo de massas e da agricultura intensiva. Tudo isto enriquece uns poucos, mas deixa um rasto insuportável de devastação social e ecológica. Sendo os trabalhadores desqualificados, aliás, os grandes perdedores deste planeta globalizado, é visceral a sua raiva, tanto mais que se sentem traídos por toda a esquerda, quer a velha (fossilizada pelos fantasmas geopolíticos da Guerra Fria) quer a nova (afunilada pelas lutas identitárias, com a consequente perda do horizonte do verdadeiro «teatro das operações»: o mundo do trabalho). Assim se explica, de facto, a transferência radical de votos, ou seja, de um extremo do espectro partidário para o seu antípoda.



Eurico de Carvalho

 In Público, n.º 12 368 (13 de Março de 2024), p. 8.

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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A «CARNAVALIZAÇÃO» DE PORTUGAL

 

Nestes dias que antecedem o Entrudo, quando o Zé Povinho prepara a máscara com que quer reinar na rua, agudiza‑se a consciência de que a «carnavalização» do real parece ser uma constante da paisagem mediática do nosso tempo. Disso mesmo são exemplo os especialistas que assumem a pele de «tudólogos»  — e os discípulos da «tudologia» que se julgam senhores de todas as especialidades. Há também comentadores que se tornam presidentes, havendo ainda quem seja presidente sem largar a casaca de comentador.

A tudo isto acresce, entretanto, a fauna característica da «futebolândia»: ex‑jogadores que falam com os pés — e faladores que jogam com as mãos de quem lhes segura o microfone. Não podemos esquecer, no entanto, os «treinadores de bancada» que pululam nas redes sociais, cujo «futebol falado» não fica atrás do da bancada de treinadores que estão nas prateleiras (perdão!, câmaras) das estações de televisão. Num ritmo imparável, aliás, qual corso carnavalesco, sucedem‑se as figuras e os figurões, e o pequeno ecrã assemelha‑se cada vez mais a um ringue de boxe amador. Mas ninguém leva a mal… Não é Carnaval? Neste inteiro Portugal, sempre!

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 335 (9 de Fevereiro de 2024), p. 4.  

 

 


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sábado, 30 de dezembro de 2023

PELOURINHO DA LÍNGUA PORTUGUESA [XXXIV]

           Atentemos neste título: «Solidão aumenta em 50% o risco de demência» (Público, 18/11/23, p. 26). Onde está o erro? Aquele em está claramente a mais. Como aumentar significa o mesmo que acrescentar, a construção correcta dispensa a preposição. Por exemplo: «A solidão acrescenta 50% ao risco [preexistente] de demência.»

No corpo da notícia, além disso, temos uma frase infeliz: «A solidão transformou‑se numa pandemia à escala global […] (ibidem).» Como é óbvio, em pandemia, por força do seu radical grego (pan = tudo), já se encontra o sentido de global. Por outro lado, a recorrente expressão à escala de constitui um desnecessário galicismo, sendo, de facto, a imitação servil do francês «à l’échelle de». No caso de não se querer prescindir da palavra escala, diga‑se (conformemente a uma sugestão de Rodrigo de Sá Nogueira) na escala — em vez de à escala.

 

Eurico de Carvalho

 

 

 

 

 

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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A DIMINUIÇÃO DO ABANDONO ESCOLAR: UMA VITÓRIA DE PIRRO?

 


 

Todas as moedas têm duas faces. Trata‑se de um truísmo que podemos ilustrar com o sucesso (flor na lapela de sucessivos governos!) do combate ao abandono escolar. Ao longo dos últimos anos, a sua gradual e significativa diminuição merece o aplauso da sociedade. Mas importa avaliar igualmente os custos sistémicos (ocultos, até) dessa esplendorosa descida. Deste lado da análise, todavia, parece ser de Pirro a vitória do sistema educativo. Assistimos, com efeito, à paulatina transformação da escola pública numa instituição de assistência social e/ou animação cultural. Concomitantemente, é notório o descrédito social dos diplomas escolares. Com o alargamento da escolaridade obrigatória, ademais, até aos 18 anos (em flagrante contradição, aliás, com o Código de Trabalho, no qual se estabelece o marco dos 16 como idade mínima para trabalhar), não devemos varrer para debaixo do tapete um novo fenómeno: a silenciosa transferência — da rua para os estabelecimentos de ensino — de muitos comportamentos anti‑sociais, com a consequente «normalização» institucional da delinquência juvenil.

Perante tudo isto, impõe‑se a pergunta: Será surpresa para alguém o aumento exponencial do mercado do ensino privado? Obviamente, não!

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 293 (28 de Dezembro de 2023), p. 6.

 

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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

MANOBRAS DE NOVEMBRO

 


 

Com o respaldo altissonante do crescimento europeu da extrema‑direita, abre‑se espaço mediático para quem queira reescrever a História. É neste contexto geopolítico que devemos entender a disputa simbólica em curso — em torno do 25 de Novembro. Todas as tentativas de pôr Abril à sua sombra foram fruto, como sabemos bem, dos que nunca suportaram (com saudades salazarentas) o aroma dos cravos. Mas hoje o atrevimento é maior… Aqueles que se apresentam como paladinos do 25 de Novembro e da democracia pluralista vêem o Major Jaime Neves como o seu “herói”. Falta‑lhes, porém, a memória do objectivo último de tal personagem: a reimplantação de uma trave‑mestra da política repressiva do Estado Novo, ou seja, a ilegalização do Partido Comunista.

No que diz respeito à verdade histórica, o 25 de Novembro deve ser lembrado, antes, por uma grande razão: a prevenção da guerra civil. Quanto ao resto, trata‑se de puro oportunismo dos que sempre quiseram retirar do calendário o 25 de Abril.

 

Eurico de Carvalho

 

In Expresso, n.º 2 666 (1 de Dezembro de 2022), p. 33.

 


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A “BURROCRATIZAÇÃO” DO ENSINO

 


Enquanto o país se entretém com a futura localização de um aeroporto que se tornou a imagem do desatino e da incapacidade estrutural de decidir em tempo útil, esquecem‑se as más notícias que ensombram a escola pública. Concomitantemente, quem queira servir‑se da pandemia para relativizar os resultados negativos do desempenho internacional dos nossos alunos — só pode ter em mente o eterno argumento do “coitadinho”.

Quando tudo gira em torno da mediocridade, em nome da qual ganhou raízes o maior monstro burocrático e legislativo de sempre, eis‑nos perante o Leviatã que não suga apenas as energias dos melhores professores, mas também destrói a sua dignidade profissional. Com que objectivo? A encenação de um “céu de papel” que esconda a triste realidade da terra. Mas este ocultamento do “reino da estupidez”, para nosso bem, não é totalmente estanque. E os sinais do desastre educativo nacional estão à vista, de facto, não sendo já possível camuflá‑los com o fogo‑de‑artifício dos recursos digitais e outros ilusionismos da era da inteligência artificial.

 

Eurico de Carvalho

 

In Expresso, n.º 2 668 (15 de Dezembro de 2022), p. 33.

 

 

 

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sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

CONFERÊNCIA DE 7 DE DEZEMBRO DE 2023

 

«ESTÉTICA,POLÍTICA E CONHECIMENTO — 8.º Seminário Aberto de Investigação (2023)».  —  No âmbito deste encontro, pronunciei, no dia 7 de Dezembro, pelas 16h, na Sala 1 de Reuniões da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a comunicação que se segue:   «FOUCAULT E A FILOSOFIA — Em Prol de Uma Leitura Kantianizante da Obra Foucauldiana

 

Para os leitores desta Montr@, aqui fica o resumo da minha intervenção:

 

Eis o nosso ponto de partida: «Qu’est‑ce que les Lumières?», de Foucault. Neste opúsculo, que data de 1984 (o ano da morte do seu Autor), encontra‑se a chave hermenêutica de toda a obra foucauldiana, com o consequente reconhecimento (às avessas de certas aparências — literárias e historicizantes) de que é filosófico, de facto, o seu estatuto discursivo. Enquanto filósofo, Foucault procede — aí — à definição da própria Filosofia, retomando originalmente os termos do debate aberto — em 1784 — pelo célebre artigo homónimo de Kant: «Was ist Aufklärung?» (É de dois séculos, precisamente, a distância que separa ambos os textos.) Como havemos de ver, porém, a leitura foucauldiana do opúsculo kantiano não consiste numa reflexão comemorativa ou laudatória do movimento histórico‑cultural que se chama (em português corrente) Iluminismo. Mas também não se trata do seu contrário. Para Foucault, de resto, não faz sentido estar a favor ou contra as Luzes. O que lhe interessa é outra coisa: «La réflexion sur “aujourd’hui” comme différence dans l’histoire et comme motif pour ume tâche philosophique particulière me paraît être la nouveauté de ce texte.» Por isso mesmo, é no quadro histórico de uma «ontologia do presente» que se deve compreender a urgência e o valor da crítica filosófica. Mas a noção foucauldiana de crítica inverte efectivamente a de Kant, não sendo, pois, de natureza transcendental. Enquanto Kant, com efeito, pretende estabelecer os limites do conhecimento, ou seja, que não devem ser ultrapassados (sob pena de dogmatismo) pelo discurso do filósofo, Foucault, por sua vez, atribui‑lhe exactamente a tarefa de determinar o que hoje deve ser objeto de ultrapassagem. Neste «kantismo inverso», altera‑se, portanto, o horizonte do trabalho filosófico, tanto mais que os limites a ultrapassar já não se circunscrevem ao campo cognitivo, mas respeitam a todo o domínio do pensamento. O que importa agora, para Foucault, não reside numa analítica que determine abstractamente as estruturas universais do saber; o que lhe interessa passa, antes, pela determinação das condições histórico‑culturais da emergência de acções e pensamentos de que nos dizemos sujeitos, mas aos quais, realmente, estamos sujeitos.

Como contraponto à leitura foucauldiana de Kant, vamos propor, por outro lado, uma leitura kantiana de Foucault. Deste ponto de vista, tornar‑se‑á evidente que Foucault, malgré lui — e o seu desprezo pelas narrativas modernas da emancipação da Humanidade —, não deixa de ser um pensador da Modernidade.

 

Eurico de Carvalho

 

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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Um Discurso de 20 de Março de 2023

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

O ELOGIO DO LEITOR

 

Como instrumento de intervenção cívica, o correio do leitor constitui certamente uma arma insubstituível da democracia. Mas se esta não existe, de facto, sem uma imprensa livre, impõe‑se o corolário de que a sua força também depende da liberdade de expressão de quem lê. Ao escrever cartas para os jornais (sem garantia alguma, aliás, de que vejam a luz do dia), o leitor transmuda‑se graciosamente num cidadão maior, cuja voz não se esgota, portanto, de quatro em quatro anos, numa cruz num boletim de voto. Além da urna (e da rua, porventura), cabe‑lhe um lugar sagrado: o púlpito do homem comum. (Não o devemos confundir, claro está, com o esgoto a céu aberto das redes sociais.) Bem haja o Público, pois, por manter acesa a chama desse espaço, no qual se espelha a imensa paleta republicana das cores do mundo!

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 044 (22 de Abril de 2023), p. 16.  

 

 


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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

VOTO ELECTRÓNICO? UM ERRO CRASSO

 


Tem sido a crescente abstenção eleitoral e a exigência de a combater o grande argumento dos defensores do voto electrónico. Sem cuidar, por agora, de discutir o pressuposto oculto desta argumentação (a saber: a ideia de que a presente erosão da democracia se resolve simplesmente com o aumento da participação eleitoral), é preciso mostrar a incompatibilidade estrutural entre a votação electrónica e os critérios que devem ser satisfeitos para salvaguardar o carácter democrático do exercício do direito de sufrágio. De acordo com a C. R. P., esse direito exerce‑se de uma forma directa, secreta e presencial. Ora, só o boletim anónimo de papel (idêntico a qualquer outro, portanto) pode proteger o eleitor, garantindo‑lhe, de um modo imediato e tangível, a confidencialidade do seu voto. Pelo contrário, o sistema electrónico retira‑lhe a tangibilidade dessa garantia, cujo privilégio cognitivo, do ponto de vista de quem vota, passa por ser, sem dúvida, a trave‑mestra do regime fiduciário em que assenta a democracia (e sem a qual, naturalmente, apenas nos resta a ruína inerente às teorias da conspiração). Se queremos salvar a democracia, enfim, não podemos prescindir do suor dos cidadãos.

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 12 229 (24 de Outubro de 2023), p. 6.

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terça-feira, 24 de outubro de 2023

NOVOS PROLETÁRIOS: OS CIENTISTAS PORTUGUESES

 


A comunidade de investigadores portugueses é composta, na sua maior parte, por membros do “precariado”: o novo proletariado do século XXI. Como é que um cientista, perguntar‑se‑á, pode ser um trabalhador precário? Será possível fazer ciência, no pleno sentido do termo, num contexto de exploração laboral? Sabemos bem que a neoliberalização das relações entre o capital e o trabalho, em completo desfavor deste último, não conhece fronteiras, estando igualmente ao serviço da mercantilização do saber. Mas o caso lusitano acrescenta, relativamente ao neoliberalismo reinante, uma particularidade perversa: o facto de ser mais importante ter conhecimentos, neste rectângulo paroquial, do que procurar conhecimento. É, pois, sob o pano de fundo da cultura da “cunha”, que impregna todos os estratos da nossa sociedade, que se torna deveras cruciante o cenário de precariedade da investigação científica. Assim sendo, quem lhe pode exigir que cumpra o seu papel de motor de desenvolvimento do país? Ninguém!

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 12 131 (18 de Julho de 2023), p. 6.

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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

E. U. A. VS. CHINA: O GRANDE JOGO DA HIPOCRISIA

 


No sagrado coração do capitalismo, surge a notícia, qual meteorito de Júpiter, de que está proibido o investimento privado (tenha calma, caro leitor!), mas apenas nas empresas chinesas de inteligência artificial. Por sua vez, a China, abençoada pátria do comunismo, já reagiu à proibição, tendo condenado os E. U. A. pelo incumprimento das santíssimas regras da economia de mercado.

De tudo isto, que devemos concluir? Tratar‑se‑á de uma comédia de enganos? Parece que a verdadeira resposta é outra: talvez estejamos perante o princípio de uma tragédia, cujo nome, naturalmente, ninguém quer pronunciar.

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 12 157 (13 de Agosto de 2023), p. 4.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

A VIDEOVIGILÂNCIA E O FUTURO DA DEMOCRACIA

 


Não é preciso ter lido Foucault para compreender que a presente expansão dos sistemas de videovigilância nas nossas cidades constitui uma ameaça aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Trata‑se de uma estratégia securitária cujo alcance vai muito além da suposta prevenção da criminalidade: o que temos aqui é um dispositivo de normalização de comportamentos. Quem sabe que está a ser vigiado, com efeito, adopta a máscara que se pretende que ele use. Por outras palavras: a simples observação de condutas é já uma forma de as dominar.

Com a multiplicação exponencial das câmaras de televisão, é o próprio espaço urbano que se reterritorializa sob a figura sinistra de uma prisão de alta segurança. Nem o inventor do Panopticon (o cárcere ideal de Bentham) teria imaginado tal possibilidade: a generalização dos mecanismos panópticos enquanto instrumentos de controlo dos movimentos das populações (e não apenas dos reclusos). Pois bem. Que as pessoas estejam disponíveis para trocar a liberdade pela segurança, eis o que mais deve preocupar quem preza o futuro da democracia.

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 212 (7 de Outubro de 2023), p. 6.

 

 

 


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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O ÚLTIMO POEMA DE CESARINY

 


 

Na pequena barca do surrealismo de Lisboa, singrou Cesariny como poeta maior e pintor menor. Como lhe era insuportável a sombra tutelar de Pessoa sobre a poesia do seu tempo, como a Pessoa incomodava, aliás, o peso de Camões, seu Adamastor, Mário Cesariny (“ó meu deus”) de Vasconcelos quis viver a vida, às avessas do cerebralismo pessoano, sobre a grande passadeira do amor (assumidamente homossexual). Por isso mesmo, pagou o preço, com o seu próprio corpo, dos vexames públicos e da prisão, em França, por “maus costumes”. Nele, realmente, nenhum intervalo hipócrita poderia reluzir entre o dizer e o fazer.

Neste centenário do nascimento de Cesariny, é bom que lembremos igualmente o testamento do homem, no qual se determina a doação de mais de um milhão de euros à Casa Pia. Terá sido, por certo, para Cesariny, o derradeiro exercício poético, irradiando, pois, por todos os poros, o seu característico humor negro. Na galeria dos notáveis da Casa Pia, com efeito, passam a estar lado a lado (suprema ironia!) o Intendente Pina Manique e o surrealista Cesariny.

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 164 (20 de Agosto de 2023), pp. 6‑7.

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quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A GRANDE ILUSÃO DOS MANUAIS DIGITAIS

 

Relativamente à colonização digital dos processos de ensino e aprendizagem, já são muitos os sinais vermelhos que emitem os países mais avançados nessa área. (Veja‑se o caso, por exemplo, da Suécia.) Pesem embora esses avisos, o Ministério da Educação insiste cegamente em experimentalismos tecnocêntricos, querendo agora acelerar a introdução dos manuais digitais no Ensino Básico.

Pois bem. Contra a digitalização dos suportes da leitura e da escrita, é preciso defender as virtudes didácticas do livro de papel. A sua linearidade, desde logo, facilita a assimilação da informação. Por não serem flutuantes, além disso, as suas páginas, temos a garantia de que esta estabilidade gráfica potencia a atenção, cuja maximização (indispensável à compreensão do que se lê) é o principal recurso pedagógico da aula. (Sem ela, realmente, nada funciona.) A tudo isto acresce, por outro lado, o relativo isolamento tecnológico do livro de papel, no qual não podem entrar (contrariamente ao que se passa com o livro electrónico) outros dispositivos, ou seja, susceptíveis de competir com a leitura, parasitando‑a irreversivelmente.

Em suma: não é pedagogicamente neutra nem positiva a transferência do livro para suportes informáticos, sendo previsíveis, de resto, as suas consequências perversas (equivalentes, aliás, nos domínios da leitura e da escrita, às que resultaram, no âmbito do cálculo mental, do uso precoce das máquinas de calcular).

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 188 (13 de Setembro de 2023), p. 6.

 

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quinta-feira, 6 de julho de 2023

O FUTURO DA RUA

 

É de saudar (conformemente à notícia do PÚBLICO de 30 de Junho) o aparecimento de um novo grupo universitário — The Future Design of Streets Association —, o qual pretende reflectir, como o indica o seu nome, sobre o futuro da rua. Mas será que a rua tem futuro?   Não o há‑de ter, por certo, se continuar a ser o que ainda é, ou seja, o cinzento canal rodoviário das deambulações pendulares da massa anónima dos subúrbios das grandes cidades.

Como a “ditadura do automóvel” é inseparável da ordem capitalista mundial, torna‑se quase evanescente a hipótese de uma retoma libertária da rua sem a recusa concomitante dos estilos de vida advindos de uma totalização mercantil da existência. Quer isto dizer que o futuro da rua, enquanto território do pensamento crítico, não constitui um domínio exclusivo de arquitectos e urbanistas.

Contra Le Corbusier, que perspectivava o projecto arquitectónico como um dispositivo anti‑revolucionário (“Arquitectura ou revolução!” — dizia ele disjuntivamente), devemos associar a arquitectura à revolução — que devolva a rua a todos (dos mais idosos às crianças). Para ser verdadeira, porém, tal devolução está longe de ser comparável com a transformação turística da rua, ou seja, com a sua espectacularização (mero suporte estético, como qualquer um de nós pode observar, de um urbanismo selvagem e especulativo). Disso mesmo é exemplo o restauro de fachada dos centros históricos das principais urbes do nosso país.

 

Eurico de Carvalho

 

In Público, n.º 12 119 (6 de Julho de 2023), p. 7.

 

 

 

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sexta-feira, 24 de março de 2023

Discurso de 20 de Março de 2023

sábado, 4 de março de 2023

O DESAPARECIMENTO DA NOITE


A notícia do Público sobre os altíssimos índices de poluição luminosa (cf. edição de 21 de Janeiro) dá‑nos uma imagem negra de Portugal. Com efeito, estamos entre os maiores poluidores da Europa, o que não deixa de ser escandaloso num tempo de crise energética!

Além de se afigurar um gigantesco obstáculo à investigação astronómica, a perda da noite constitui um desastre ambiental, cujas consequências negativas, por certo, para o futuro da Humanidade, ainda hão‑de ser objecto de um juízo que elucide a opinião pública e satisfaça a comunidade científica. (São evidentes, pelo menos, e para já, as perturbações do sono.) Mas o Homem só se tornou Homem, ao longo de milénios, nesta alternância — cósmica — de luz e treva. Ora, perante a perspectiva apocalíptica de um término de tal bipolaridade, é caso para fazer nosso o célebre verso de Álvaro de Campos: «Vem, Noite antiquíssima e idêntica», e devolve‑nos as estrelas do Universo!

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 11 956 (24 de Janeiro de 2023), p. 4.

 P. S. — Após a publicação deste escrito, e em plena releitura d’A Cidade e as Serras, descobrimos um trecho suculento, a saber:

«Na Cidade (como notou Jacinto) nunca se olham, nem lembram os astros — por causa dos candeeiros de gás ou dos globos de electricidade que os ofuscam. Por isso (como eu notei) nunca se entra nessa comunhão com o Universo que é a única glória e única consolação da Vida. Mas na serra, sem prédios disformes de seis andares, sem a fumaraça que tapa Deus, sem os cuidados que, como pedaços de chumbo, puxam a alma para o pó rasteiro — um Jacinto, um Zé Fernandes, livres, bem jantados, fumando nos poiais de uma janela, olham para os astros e os astros olham para eles. Uns, certamente, com olhos de sublime imobilidade ou de sublime indiferença. Mas outros curiosamente, ansiosamente, com uma luz que acena, uma luz que chama, como se tentassem, de tão longe, revelar os seus segredos, ou de tão longe compreender os nossos…» [Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras, 7.ª ed. (Lisboa: Círculo de Leitores, 1982), p. 128]. 

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A TAGARELICE DE BELÉM

 

Num contraste estratosférico com o perfil esfíngico e salazarento do seu antecessor, a figura de Marcelo lembra a irrequietude do pardal. A velocidade com que fala, aliás, de tudo e de nada, é estonteante. Salta de tema para tema como ramos da mesma árvore, plantando novas com a astúcia das velhas…

A tagarelice compulsiva não terá a particularidade folclórica de um certo mergulho no Tejo, mas já deveria ter merecido a atenção da Academia. Embora haja «cientistas políticos» a diagnosticar (com ar circunspecto e contrito) a perda presidencial de auctoritas e gravitas, tem sido muito curta a manta do Latim para tanta verborreia de Belém.

In extremis, talvez possamos trocar a ciência lusa pela filosofia alemã. Apelemos, pois, para o maior filósofo (segundo alguns) do século XX: Heidegger, o pensador da Floresta Negra. Na sua obra‑prima, Ser e Tempo, temos, pela primeira vez, uma objectivação fenomenológica da tagarelice, à qual corresponde, enquanto facúndia falaz e vazia, o sinal da inautenticidade.

Aqui fica, portanto, o conselho que dirigimos a quem queira compreender as aventuras e desventuras de Marcelo: «Leia Heidegger!» — E esta, hem?!

Eurico de Carvalho

In Expresso, n.º 2 614 (2 de Dezembro de 2022), p. 33.

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

UM NOVÍSSIMO ARTIGO SOBRE GUY DEBORD

 

Caros leitores:

 

Já está disponível o último número da Revista Aufklärung! Aqui podeis consultar um artigo da minha autoria:

 

D’A SOCIEDADE DO ESPECTÁCULO (1967) AOS COMENTÁRIOS (1988):

 UM “CORTE EPISTEMOLÓGICO”? 

Uma Hipótese Hermenêutica sobre a Obra de Guy Debord

 

Boas leituras!

 


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domingo, 4 de setembro de 2022

GORBATCHOV, O HOMEM QUE MUDOU O MUNDO

 

De quando em vez (di‑lo Hegel algures), a História calça as suas botas de sete léguas. Calçou‑as, de facto, no dia 11 de Março de 1985: a data da tomada de posse — como secretário‑geral do Partido Comunista da União Soviética — de um filho de camponeses (de seu nome, Mikhail Gorbatchov).

Na hora da sua morte, que devemos imprimir na pedra tumular? Isto: sem pedir licença à teoria marxista da História, Gorbatchov mudou o mundo. Da queda do Muro de Berlim (1989) à implosão da URSS (1991), passando ainda pela reunificação alemã (1990), eis uma série imprevisível de acontecimentos. Em sete anos apenas, portanto, o último presidente do Politburo tornou‑se o verdadeiro destruidor (involuntário?) da ordem de Ialta (1945), com o consequente fim da Guerra Fria.

Sendo um ídolo do Ocidente, que lhe outorgou um Prémio Nobel em 1990, continua a ser, porém, para a maioria dos russos, um traidor. Com o seu adeus, abre‑se a porta para o juízo do tempo, o qual não se confunde, por certo, com o dos homens que lhe recusaram o funeral de Estado.

 

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 11 816 (4 de Setembro de 2022), p. 6.

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JOÃO MIGUEL TAVARES E AS ELITES PORTUGUESAS

 

Nada de novo nos traz a crónica de João Miguel Tavares sobre a responsabilidade das elites portuguesas pelo atraso de Portugal em relação à Europa (cf. Público, 25/8/22, p. 48). Muito antes dele, o maior escritor de ideias do século XX português, ou seja, António Sérgio, esse esquecido, já tinha alertado o país para o nosso drama: «Uma das razões dessa antiga indigência — dizia ele lapidarmente — é que as classes superiores do nosso país nunca foram um escol no rigor do termo, isto é, que nunca dirigiram o trabalho do obreiro, que nunca se esforçaram pelo seu progresso, que nunca o impulsionaram com os exemplos úteis, que nunca exerceram uma direcção social.» Atentando maximamente no grifo, que é nosso, será mesmo necessário algum considerando suplementar? A realidade grita à nossa volta!

Mas o que deveras surpreende o leitor do Público é a desmesurada anglofilia de J. M. T. É chocante, em especial, o seu boçal fascínio pelo escol britânico. Para o ilustrar, J. M. T. apresenta‑nos o exemplo de Churchill. Saberá o cronista que o seu bem‑amado chefe dos conservadores ingleses perdeu as eleições em 1945? Porquê? Seria bom que pesquisasse o assunto.

Eurico de Carvalho

In Público, n.º 11 810 (29 de Agosto de 2022), p. 4.

P. S. — Eis um passo suculento da crónica a que nos referimos: «Não pretendo que as elites sejam abolidas — pelo contrário, desejo que sejam transformadas, para que um dia possam estar à altura do seu nome, e comecem a fabricar os seus Churchill [sic].» Além de ler biografias sobre Churchill, seria bom que o cronista tivesse à mão um prontuário. Em português de lei, com efeito, pluralizam‑se os nomes próprios. Assim sendo, J. M. T. deveria ter escrito Churchills.

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